quarta-feira, 4 de julho de 2007

 

Carta para meu filho Madyo Dawany

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Hoje cheguei e não havia o teu sorriso reconfortando-me. Fiquei triste e sem coragem como se fosse do teu tamanho, assim pequenino. Não é possível tu estares comigo e isso rouba-me o coração.
Este desejo de te querer junto a mim é um desejo egoísta, eu sei. Quero isso mais por mim que por ti. Quando te escrevo é mais para mim do que para ti.
Faço-te esta confissão de egoísmo para que saibas, meu filho, que te amo de todas as maneiras que sei amar. E mesmo assim sinto que não sei amar, que me falta estar vivo. Saberás do que falo quando desvendares alguns mistérios do mundo. Assim crescerás à medida do teu sonho.
Quero que respeites esta insuficiente maneira de amar dos homens do meu tempo. E que ames tudo aquilo que os homens antes de ti construíram por amor a outros homens, mesmo que o tenham feito incompletamente. E que recordes que por trás de cada coisa transformada há sempre uma gota de sangue: tudo resulta da luta, mesmo que essa luta tenha sido apenas interior e aparente.
Sentirei que a minha vida se desdobra como a onda que mesmo desfeita se renova. Sentir-me-ei como a onda que sabe que depois de desfeita se prolongará no eterno movimento dos homens lutando e construindo por amor aos outros que nem sequer conhecem.

MIA COUTO
Do livro: Raiz de Orvalho e Outros Poemas
Editora: Ndjira

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Comentários:
Uma carta de pai para filho que acaba por ser, simultaneamente, uma maravilhosa confissão de amor de pai e uma extraordinária peça de prosa do escritor e poeta Mia Couto.

Um abraço
 
gosto muito deste escritor...

bom fim de semana para ti

bjs
 
Olá adorei parabens.
bom fim de semana
bjs naty
 
Olá, e como não podia deixar-te de fora deste desafio , tens lá no meu blog!
Um bj Sony:-)
passa lá quando puderes.-)
 
Desejo-te um domingo de sonho.
Beijinhos embrulhados em abraços
 
Uma linda e comovente carta de amor.
Por mais que a fé fraqueje, no amor há sempre que se acreditar.
Um abraço.
 
às vezes nem sempre sabemos exprimir o amor...cartas de amor são sempre algo que enche a alma...
um abraço
brisa de palavras
 
O Mia, foi um homem de idealismos.
Um Português, sobretudo um Moçambicano que acreditou em utopias antes e pós 25 de Abril, um bom jornalista, um novo homem -biólogo marinho, que se tornou neste maravilhoso escritor!

Vamos aprendendo com a vida!!

Abraços

Mário Relvas
 
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