domingo, 25 de março de 2007
A CARTA de Pero Vaz de Caminha (2ª parte)
(...)
E, quarta-feira seguinte pela manhã topámos aves a que chamam fura-buxos.
E neste dia, às horas de véspera, houvemos vista de terra, isto é, primeiramente dum grande monte mui alto e redondo e doutras serras mais baixas ao sul dele e de terra chã, com grandes arvoredos, ao qual monte o capitão pôs nome - o Monte Pascoal - e à terra a Terra de Vera Cruz.
Mandou lançar o prumo. Acharam vinte e cinco braças; e, ao sol posto, a cerca de seis léguas de terra, surgimos âncoras, em dezanove braças; ancoragem limpa. Ali ficámos toda aquela noite.
E à quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos direitos à terra, indo os navios pequenos diante por dezassete, dezasseis, quinze, catorze, treze, doze, dez e nove braças até meia légua de terra, onde todos lançámos âncoras no enfiamento da boca de um rio. E chegaríamos a esta ancoragem às dez horas pouco mais ou menos.
E dali houvemos vista de homens que andavam pela praia, cercasete ou oito, segundo disseram os navios pequenos, por chegarem primeiro. Ali lançámos fora os batéis e esquifes e vieram logo todos os capitães das naus a esta nau do capitão-mor e aqui falaram. E o capitão mandou no batel em terra Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou a ir para lá acudiram pela praia homens, quando aos dois, quando aos três, de maneira que quando o batel chegou à boca do rio eram ali dezoito ou vinte homens pardos, todos nus, sem nenhuma coisa que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos e sua setas. Vinham todos rijos para o batel.
Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos e eles os pousaram.
Ali não pôde deles haver fala nem entendimento que aproveitasse, pelo mar quebrar na costa. Deu-lhes somente um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça e um sombreiro preto. E um deles lhe deu um sombreiro de penas de ave compridas, com uma capazinha pequena e penas vermelhas e pardas como as de papagaio; e outro lhe deu um ramal grande de continhas brancas miúdas, que querem parecem aljaveira, as quais peças creio que o capitão manda a Vossa Alteza. E com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder deles haver mais falas, por causa do mar.
Na noite seguinte ventou tanto sueste com chuvaceiros que fez caçar as naus, e especialmente a capitaina.
E na sexta pela manhã, às oito horas pouco mais ou menos, por conselho dos pilotos, mandou o capitão levantar âncoras e fazer vela; e fomos ao longo da costa, com os batéis e esquifes amarrados à popa em direcção ao norte, para ver se achávamos alguma abrigada e bom pouso onde ficássemos para tomar água e lenha. Não porque já nos faltasse, mas para que nos precavêssemos aqui.
(...)
continua.
E, quarta-feira seguinte pela manhã topámos aves a que chamam fura-buxos.
E neste dia, às horas de véspera, houvemos vista de terra, isto é, primeiramente dum grande monte mui alto e redondo e doutras serras mais baixas ao sul dele e de terra chã, com grandes arvoredos, ao qual monte o capitão pôs nome - o Monte Pascoal - e à terra a Terra de Vera Cruz.
Mandou lançar o prumo. Acharam vinte e cinco braças; e, ao sol posto, a cerca de seis léguas de terra, surgimos âncoras, em dezanove braças; ancoragem limpa. Ali ficámos toda aquela noite.
E à quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos direitos à terra, indo os navios pequenos diante por dezassete, dezasseis, quinze, catorze, treze, doze, dez e nove braças até meia légua de terra, onde todos lançámos âncoras no enfiamento da boca de um rio. E chegaríamos a esta ancoragem às dez horas pouco mais ou menos.
E dali houvemos vista de homens que andavam pela praia, cercasete ou oito, segundo disseram os navios pequenos, por chegarem primeiro. Ali lançámos fora os batéis e esquifes e vieram logo todos os capitães das naus a esta nau do capitão-mor e aqui falaram. E o capitão mandou no batel em terra Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou a ir para lá acudiram pela praia homens, quando aos dois, quando aos três, de maneira que quando o batel chegou à boca do rio eram ali dezoito ou vinte homens pardos, todos nus, sem nenhuma coisa que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos e sua setas. Vinham todos rijos para o batel.
Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos e eles os pousaram.
Ali não pôde deles haver fala nem entendimento que aproveitasse, pelo mar quebrar na costa. Deu-lhes somente um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça e um sombreiro preto. E um deles lhe deu um sombreiro de penas de ave compridas, com uma capazinha pequena e penas vermelhas e pardas como as de papagaio; e outro lhe deu um ramal grande de continhas brancas miúdas, que querem parecem aljaveira, as quais peças creio que o capitão manda a Vossa Alteza. E com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder deles haver mais falas, por causa do mar.
Na noite seguinte ventou tanto sueste com chuvaceiros que fez caçar as naus, e especialmente a capitaina.
E na sexta pela manhã, às oito horas pouco mais ou menos, por conselho dos pilotos, mandou o capitão levantar âncoras e fazer vela; e fomos ao longo da costa, com os batéis e esquifes amarrados à popa em direcção ao norte, para ver se achávamos alguma abrigada e bom pouso onde ficássemos para tomar água e lenha. Não porque já nos faltasse, mas para que nos precavêssemos aqui.
(...)
continua.
Etiquetas: Textos
Comentários:
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Uma "crónica" excelente, descrita numa linguagem aberta.
Fabuloso esse relato de Pero Vaz de Caminha.
Um abraço
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Fabuloso esse relato de Pero Vaz de Caminha.
Um abraço
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