quinta-feira, 15 de março de 2007
A CARTA de Pero Vaz de Caminha (1ª Parte)
«Senhor
Posto que o capitão-mor desta vossa frota e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, que se ora nesta navegação achou, não deixarei também de dar disso a minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que, para o bem contar e falar, o saiba pior que todos fazer.
Mas tome Vossa Alteza minha ignorância por boa vontade, a qual bem certo creia que, por aformosentar nem afear, haja aqui de pôr mais do que aquilo que vi e me pareceu.
Da marinhagem e singarduras do caminho não darei aqui conta a Vossa Alteza, porquanto o não saberei fazer e os pilotos devem ter esse cuidado. E portanto, Senhor, do que hei-de falar começo, e digo que a partida de Belém, como Vossa Alteza sabe, foi segunda-feira, 9 de Março.
E sábado, 14 do dito mês, entre as oito e as nove horas, nos achámos entre as Canárias, mais perto da Grã-Canária e ali andámos todo aquele dia em calma, à vista delas, obra de três ou quatro léguas.
E domingo, 22 do dito mês, às dez horas pouco mais ou menos, houvemos vista das Ilhas do Cabo Verde, isto é, da Ilha de São Nicolau, segundo dito de Pero Escolar, piloto.
E à noite seguinte, à segunda-feira, quando amanheceu, se perdeu da frota Vasco de Ataíde com sua nau, sem haver aí tempo forte nem contrário para poder ser. Fez o capitão suas diligências para o achar, a umas e a outras partes, e não apareceu mais.
E assim seguimos por este mar de longo até que, terça-feira de Oitavas de Páscoa, que foram vinte e um dias de Abril, cerca 660 ou 670 léguas da dita ilha, segundo diziam os pilotos, topámos alguns sinais de terra, os quais eram muita quantidade de ervas compridas a que os mareantes chamam botelho, assim como outras a que também chamam rabo-de-asno.
(...)»
Assim começa "A CARTA" em que Pero Vaz de Caminha dá ao rei D. Manuel I novas da viagem de Pedro Alvares Cabral, que levou à descoberta do Brasil.
Trata-se de um documento bastante extenso, extraído do livro intitulado A CARTA de Pero Vaz de Caminha, da Editora MAR DE LETRAS, cuja transcrição será feita parcelarmente.
Posto que o capitão-mor desta vossa frota e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, que se ora nesta navegação achou, não deixarei também de dar disso a minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que, para o bem contar e falar, o saiba pior que todos fazer.
Mas tome Vossa Alteza minha ignorância por boa vontade, a qual bem certo creia que, por aformosentar nem afear, haja aqui de pôr mais do que aquilo que vi e me pareceu.
Da marinhagem e singarduras do caminho não darei aqui conta a Vossa Alteza, porquanto o não saberei fazer e os pilotos devem ter esse cuidado. E portanto, Senhor, do que hei-de falar começo, e digo que a partida de Belém, como Vossa Alteza sabe, foi segunda-feira, 9 de Março.
E sábado, 14 do dito mês, entre as oito e as nove horas, nos achámos entre as Canárias, mais perto da Grã-Canária e ali andámos todo aquele dia em calma, à vista delas, obra de três ou quatro léguas.
E domingo, 22 do dito mês, às dez horas pouco mais ou menos, houvemos vista das Ilhas do Cabo Verde, isto é, da Ilha de São Nicolau, segundo dito de Pero Escolar, piloto.
E à noite seguinte, à segunda-feira, quando amanheceu, se perdeu da frota Vasco de Ataíde com sua nau, sem haver aí tempo forte nem contrário para poder ser. Fez o capitão suas diligências para o achar, a umas e a outras partes, e não apareceu mais.
E assim seguimos por este mar de longo até que, terça-feira de Oitavas de Páscoa, que foram vinte e um dias de Abril, cerca 660 ou 670 léguas da dita ilha, segundo diziam os pilotos, topámos alguns sinais de terra, os quais eram muita quantidade de ervas compridas a que os mareantes chamam botelho, assim como outras a que também chamam rabo-de-asno.
(...)»
Assim começa "A CARTA" em que Pero Vaz de Caminha dá ao rei D. Manuel I novas da viagem de Pedro Alvares Cabral, que levou à descoberta do Brasil.
Trata-se de um documento bastante extenso, extraído do livro intitulado A CARTA de Pero Vaz de Caminha, da Editora MAR DE LETRAS, cuja transcrição será feita parcelarmente.
Etiquetas: Textos
Comentários:
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Escrita em português antigo, esta CARTA (que segundo consta só veio a público, depois de descoberta nos arquivos reais, muitos anos mais tarde), é de facto um documento histórico importante.
Um abraço
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